Liderar é regar as potências do outro
Julie Oliveira | Artista da Palavra
9/22/20252 min read


Depois de muito refletir, chego à conclusão de que a liderança nasce como um instinto, mas precisa ser cultivada todos os dias até se transformar em uma habilidade capaz de impactar positivamente as pessoas.
Ao contrário do que muitos acreditam, de que grandes líderes são apenas os milionários de negócios bem sucedidos, eu cresci cercada por referências que mostravam outra verdade. Na favela, todo mundo precisa criar seus corres para sobreviver, e isso exige organização, estratégia e visão de futuro. Vi de perto mulheres e homens que, além de terem o dom da liderança, desenvolveram a sagacidade de transformá-la em ação. Elas solucionavam problemas reais da comunidade, inovavam e criavam metodologias práticas de convivência e colaboração.
Uma dessas pessoas foi o meu avô, mais conhecido como João da Luz. Ele era responsável por ser a ponte entre as palafitas do que ainda nem era o Complexo da Maré e a central de luz do Rio de Janeiro. Minha avó, dona Maria Odete, chamada com carinho de dona Neném, também foi uma grande liderança. Cozinheira de mão cheia, era ela quem preparava as quentinhas dos feirantes da Feira da Teixeira Ribeiro. Além deles, muitos outros moradores do território se tornaram percursores e protagonistas, sempre lutando pelo coletivo e conquistando a liderança através da colaboração. Por isso são tão admiráveis, como Marielle, por exemplo, assim como dona Orosina, Bira Carvalho, dona Helena, Renata Souza e tantas outras pessoas que fizeram e ainda fazem o melhor pelo outro e para o outro.
Percebo, na trajetória de todos eles, um ensinamento que meu pai me deixou e que guardo no coração: se cada pessoa desse o melhor de si em suas tarefas diárias, o mundo seria muito mais gentil. Esse é um dos meus valores primordiais, sobretudo na liderança. Respeito não se conquista pelo medo, e o medo pode surgir de muitas formas, inclusive disfarçado na agressividade passivo agressiva. Quem lidera impondo medo não constrói vínculos de afeto, apenas ergue barreiras e, no caminho, acumula inimigos em vez de parceiros. O que não me parece nada estratégico ou coerente. Liderar é, sem sombra de dúvidas, regar o outro para que suas potencialidades floresçam. Não é sobre ego, centralidade ou narcisismo, mas o oposto disso. Exige entrega, transparência, cuidado e afeto. Isso não torna ninguém um líder fraco, muito pelo contrário. Torna humano. E é justamente a humanidade que fortalece processos, cria uma cultura de confiança e abre espaço para liberdade e respeito.
A pergunta que tem ecoado em mim é simples e profunda, e deixo como reflexão para você também: quais práticas devo cultivar todos os dias para ser melhor para o outro e com o outro?