Exaustão no topo da montanha
Julie Oliveira | Artista da Palavra
9/5/20252 min read


E depois de anos de dedicação para conquistar o trabalho dos sonhos, me sinto EXAUSTA! E quer saber o pior? Além de exausta, me sinto extremamente culpada por não conseguir levantar da cama nos últimos tempos.
Para contextualizar: cresci numa família dedicada ao trabalho. Por anos vi meu pai fazendo três turnos em empregos distintos. Minha mãe trabalhava sete dias por semana numa loja de roupas infantis. Aquele esforço era apresentado como dignificante — era o que eu ouvia todos os dias. Meus pais tinham as mesmas vinte e quatro horas por dia que todo mundo, mas, ainda assim, não enriqueceram, ao contrário do que prometem alguns gurus da internet. — Foram anos lutando pelo mínimo: moradia, segurança alimentar, acesso à educação, saúde e lazer.
O curioso é que eles mal ficavam em casa. Comiam o que dava entre um trabalho e outro, perderam a saúde e, quando não estavam trabalhando, a exaustão nem deixava aproveitar os raros momentos de lazer.
Diante dessa situação, cresci acreditando que a única coisa que me tornava importante era a utilidade — a produtividade. Desde os 16 anos trabalho em dois ou três empregos ao mesmo tempo. Sempre fazendo mil e um cursos e formações, porque não podia me dar ao direito de recusar uma bolsa integral. Houve uma época em que eu nem dormia à noite, pois precisava usar aquele tempo de descanso para colocar estudos e trabalhos em ordem. Pouco depois, resolvi me mudar de estado e morar sozinha. Desde então, a dedicação ao trabalho, que já era grande, dobrou. As responsabilidades, cada vez maiores, não permitiam que eu amolecesse. Não! Eu precisava dar conta de tudo e de todos. E assim vivi por quase nove anos.
Passei todo esse tempo hiperfocada no sucesso profissional. Agora você pode estar se perguntando se tenho 30 ou 40 anos pra estar tão dedicada a isso. Bom… ainda tenho 24. Acumulo três ou quatro profissões, duas graduações, uma pós, muitos cursos — e muito cansaço. Mas é aquele cansaço que não se resolve com uma noite de sono decente, sabe? É mais profundo. Cheguei ao ponto de sentir PREGUIÇA DE FALAR. Não tenho vontade de sair de casa. Se bobear, nem da cama tenho forças pra levantar.
Comecei a me questionar se estaria entrando num quadro depressivo e fui refletindo sobre os motivos de já acordar cansada e de mau humor. Cheguei à conclusão de que talvez eu não esteja feliz — o que parece não fazer sentido, já que finalmente alcancei um dos status profissionais com que sonhei a vida inteira. Será que chegar ao topo da montanha realmente vale a pena?
Decidi colocar um ponto final nessa situação. Afinal de contas, 15mg de escitalopram por dia, antes mesmo do meu córtex pré frontal estar totalmente formado, pode ser um tanto perigoso. Ainda não sei muito bem como colocar tudo em ordem. Minha cabeça ainda está cansada demais para encontrar soluções respeitosas. Mas, colocar tudo isso pra fora e talvez ajudar uma ou duas mulheres que estejam passando pela mesma situação, já seja uma boa saída.
E você? Quais exaustões carrega em suas costas?