Dona dos ventos, tempestades e trovões

Julie Oliveira | Artista da Palavra

9/13/20252 min read

Dona dos ventos, das tempestades e dos trovões. A leveza da borboleta e a força do búfalo. Dona de muitos corações e uma das orixás mais poderosas. A mulher que carrega uma espada em uma mão e um eruexim na outra. Capaz de provocar ventania no mundo dos vivos e de encaminhar almas no mundo dos mortos.

E no meio da tempestade, ela é o brilho que incendeia e rasga o céu, seguida do estrondo de um trovão.

É ironia dizer que a menina que morre de medo de tempestade é a mesma que carrega um furacão dentro de si? Se for, mil perdões. Nunca foi minha intenção. Mas eu jamais imaginaria que algo tão potente pudesse habitar em mim.

Minha mãe costuma dizer que gostaria de ser corajosa como eu. Na verdade, acredito que é o excesso de medo que me move e me impulsiona. É horrível sentir e saber, mas não conseguir explicar. Chega um momento em que é preciso buscar respostas. Tentar compreender de verdade o que te torna diferente. E quanto mais me perco nesse labirinto longo e estreito, mais me encontro. Até que, ao chegar no que penso ser o fim, descubro apenas um recomeço. A descoberta. A chegada.

Me encontro em um cais de chão verde limão. Ao mirar o horizonte, vejo a mistura de tons de azul entre céu e mar. É tão lindo que duvido ser real. Fico um tempo admirando e percebo que a imensidão azul se transforma em pôr do sol rosado. Logo, uma brisa suave sussurra em meus ouvidos, pedindo que eu siga em frente. Parece loucura. Pular no mar? Claro que não.

Mas a cada segundo de negação, a brisa aumenta de intensidade. Não era bruta: era uma voz feminina e mansa que transmitia segurança. Ainda assim, o medo dominava meu corpo. O desconforto era tanto que dei o único passo necessário para atravessar o limite entre terra e ar. O depois foi tão rápido que até hoje me pergunto como um vento leve pode se transformar em tornado em milésimos de segundos.

Quando me dei conta, já era tarde. Eu estava no olho do furacão. Tudo ao redor girava, às vezes em sentido horário, às vezes ao contrário. O mundo ficou cinza, frio, molhado. Gotas de chuva cortavam minha pele como pequenos cacos de vidro. Mas, apesar do caos, eu flutuava. Nada além do vento e da chuva podia me atingir — até que o desespero invadiu meu coração.

Senti meu corpo se desfazer em lágrimas quentes que deixavam um rastro de fogo no rosto. Eu queria sair dali. Precisava. Quanto mais pensava em fugir, mais rodopiava no ar agitado e perdia o controle do corpo, da mente e da respiração. Até que ouvi de novo a brisa. Só que agora ela não sussurrava. Ela gritava. Se transformava em trovões que faziam até minha alma tremer.

Por que ter medo da tempestade? Por que fugir do que habita em você?